terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O jogo de jogar as coisas fora (2)

Comecei o desafio de jogar objetos e sentimentos que entulham meu caminho. Foi difícil decidir por onde começar. E o melhor com certeza é ir por etapas.
Em casa temos uma gaveta do tipo "guarda roupa de Nárnia". Sempre que procuramos algo que não sabemos onde está, lá é o primeiro lugar a ser fuçado.
Foi lá que eu comecei minha saga e de lá saiu:

- chaves que não abriam nada;
- chaveiros com propagandas de todos os tipos;
- comprovantes de depósito, de saque, de compra datando 2, 3 anos;
- caixinha de óculos vazia;
- lixa de unha e esmalte vencido;
- calculadora quebrada;
- preguinhos, grampos de grampeador aos pedaços, clips;
- cartões de pedreiro, borracheiro, eletrecista;
- replay do Hopi Hari e do Playcenter... vencidos!
- Folderes de pizzarias, disk burguer, disk hot dog, disk tudo o que se pode imaginar com prefixo de telefones que nem existem mais;
- canetas sem carga;
- carregadores de celular que já foram descartados há tempos;
- receitas médicas pra lá de antigas;
- cabos e mais cabos de USB;
- pilhas, pilhas e mais pilhas... elas se procriam na gaveta.

Ufa! Acho que acabou, mas já que comecei vou continuar.
Até!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O jogo de jogar as coisas fora (1)

Uma poesia de Manuel Bandeira chamada BALADA DO REI DAS SEREIAS, conta a história de um rei que atirava coisas ao mar e pedia para que as sereias fossem buscá-las, senão elas virariam espumas das ondas do mar.
Ele jogou um anel, e as sereias o trouxeram de volta p/ seus dedos, depois grãos de arroz e as sereias resgataram todos e por fim ele atirou sua filha que morreu...

"Foram as sereias...
Quem as viu voltar?...
Não voltaram nunca!
Viraram espuma
Das ondas do mar."

Talvez esse rei more dentro de nossa cabeça e seja o culpado por nosso medo de jogarmos coisas fora, pois ele jogava e queria de volta.Acredito que não jogamos  algumas coisas fora, por não saber o que colocar no lugar.
Mas estou pensando bem: será que necessito mesmo de tudo o que guardo? Seria até bom me livrar de alguns anéis, de grãos de lembranças e de pessoas que não mais fazem parte da minha vida.
Seja qual for a explicação para juntar tantas coisas e sentimentos, a minha conclusão é de que isso é ruim!
Decidi começar amanhã uma  limpeza geral. Vou retirar o excesso material (conto com a ajuda do Tó e da Babi) e mental que é específico e pessoal.
Acompanhe esta minha difícil jornada.

 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

SENTIR-SE AMADO

O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.
Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.
A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?
Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.
Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho."
Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d’água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando?" Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. "Vem aqui, tira esse sapato."
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido.
Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.

Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.

Martha Medeiros



terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Colaborações de avó....

Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de
domingo, me sentar numa confortável poltrona e dizer aos meus netos:
- Sentem-se aqui ao meu lado. Tenho umas coisas pra contar. E explicar que o nome disso não é
conselho, isso se chama colaboração! (Muito boa essa!!!)
Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas conclusões. E agora com os ossos frágeis a pele mole e os cabelos brancos, minha alma é o que me resta saudável e forte.
Por isso, prestem atenção! A vida é mais ou menos assim:

É preciso coragem para ser feliz. Seja valente.
Siga sempre seu coração. Para onde ele for, seu sangue, suas veias e seus olhos também irão.
E satisfaça seus desejos sempre com cautela. Esse é seu direito e obrigação.
Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer crescer, mas escolham entre ser grande pessoas ou pessoas grandes, vai depender só de você.
Tenha poucos e bons amigos. Tenha filhos. Tenha um jardim.
Aproveite sua casa, mas vá a lugares lindos como Cataratas do Iguaçu e Dunas da Joaquina.
Cuide bem dos seus dentes.
Experimente, mude, corte os cabelos.
Ame. Ame pra valer, mesmo que ele seja o carteiro.
Não corra o risco de envelhecer dizendo "ah, se eu tivesse feito..."
Tenha uma vida rica de vida.
Vai que o carteiro ganha na loteria - tudo é possível, e o futuro é imprevisível.
Viva romances de cinema, contos de fada e casos de novela.
Faça sexo, mas não sinta vergonha de preferir fazer amor.
E tome conta sempre da sua reputação, ela é um bem inestimável.
Porque, sim, as pessoas comentam, reparam, e se você der chance elas inventam também detalhes desnecessários.
Se for se casar, faça por amor. Não faça por segurança, carinho ou status.
A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém parecido com você, mas isso pode ser um saco!
Prefira a recomendação da natureza, que com a justificativa de aperfeiçoar os genes na reprodução, sugere que você procure alguém diferente de você. Mas para ter sucesso nessa questão, acredite no olfato e desconfie da visão. É o seu nariz quem diz a verdade quando o assunto é paixão.
Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus instrumentos de criação.
Leia. Pinte, desenhe, escreva. E por favor, dance, dance, dance até o fim. Vai por mim!!!
Compreenda seus pais. Eles te amam para além da sua imaginação, sempre fizeram o melhor que puderam, e sempre farão.
Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza.
Era só isso. Agora é com vocês.